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maio 07, 2012

Histórias de fantasmas, histórias (não) contadas

Nota: 
Nós, renegadas em conversa decidimos por vezes, convidar alguém para escrever neste espaço às Segundas-feiras. E será do critério da pessoa convidada, o que decida escrever. 
Chris, inaugurou esta nossa ideia que esperemos que seja de agrado a todos os seguidores. 
Em nome de todas, boa noite de Segunda-feira em companhia deste texto sobre a veracidade do escritor em suas obras de arte ;)



Certa vez eu li um escritor que afirmou: “Todo escritor é um mentiroso”. Por alguns momentos eu me foquei naquela frase me perguntando o que ele queria dizer.
Como escritor e blogueiro, procurei entender que fosse uma mensagem subliminar, por criarmos personagens, cenários e diálogos, alguns fantásticos, outros aparentemente mais realistas, contanto, de ficção. Uma ficção que por muitas vezes, atrevo-me a dizer a maioria, baseada em fatos reais. Sejam do autor ou de outros, isto é o que menos importa.
Porém, na visão de leitor de diversos blogues pessoais, acabei por discordar.
Eu considero a maioria dos blogueiros, escritores de algum modo. Cada qual tem o seu modo, alguns expressam-se através de poemas, outros de contos, crônicas e muitos transformam seus blogues verdadeiros diários pessoais.
Ao ler desabafos, relatos de vida contados detalhadamente, como leitor, eu me sentiria indigno e até mesmo envergonhado de comentá-los ou visitar os espaços que escolheram para se expressar, com a “afirmativa” (que seria somente especulação, visto que não convivo com os tais) de que todos ali são mentirosos.
O ser humano sempre teve a necessidade de se expressar, se não fosse assim, não existiria nenhum tipo de arte, entretanto, todo o ser humano também tem a necessidade de mentir, seja por carência, para chamar a atenção, uma fuga da realidade ou simplesmente um vício.
Eu posso ser um mentiroso, este escritor que afirmou com tanta convicção também pode ser (pode ser) um mentiroso, todos os autores de livros e blogues que leio podem ser mentirosos. Você que lê este texto também, todos o somos em alguns momentos e acredito que, pior do que ser mentiroso é ser um especulador, um investigador da vida alheia.
Se eu leio um desabafo em um blogue, nem me passa a mente que não exista veracidade no texto, apenas quando o mesmo deixa sombra de dúvidas e, se não for algo que possa causar constrangimento a quem escreveu, eu pergunto, se posssível EM OFF, para não dar um fora em meu comentário.
Não cabe a mim, não cabe a você, não cabe a ninguém ficar procurando “cabelo em ovo” no texto de um autor. Ele é dono do texto e só ele tem a certeza do que existe em seu interior e o que achou que era devido exteriorizar. Ou criar, tanto faz, o mais importante e que muitos deixam de lado, pela pequenez de suas almas, o foco principal: absorver o que o autor quer transmitir. Verídico ou não, o autor está ao menos tentando transmitir uma mensagem e esta é real, enquanto o investigador está em uma tarefa inútil e diria até sórdida.
Eu não entendo as razões de muitos que estão por aqui quando leio certos comentários na blogosfera, eu tento entender as minhas. O escritor ou o blogueiro está aqui para entreter as pessoas, para ajudar algumas a enxergar ou fugir da realidade (em meu ponto de vista isto é o suficiente para que sejam respeitados) e, por vezes, eu também escrevo para que alguns me ajudem a enxergar e também como fuga da realidade.
O problema é que os que costumam escrever, por mais que se esforcem, acabam vindo de encontro as suas realidades e, quando as percebem, em algumas ocasiões é tarde demais e já está publicado. E talvez, este escritor que afirma que todo escritor é mentiroso, fez esta afirmativa para despistar o leitor, porque talvez o que escreva seja muito real. E mentindo deste modo, estaria desviando a atenção da veracidade de seus escritos. E vejam bem, estou supondo, não especulando, a vida pessoal do autor não me diz respeito, apenas achei intrigante tal afirmação.
Acredito que o fascinante da escrita esta nesta ambiguidade, de não termos certeza do que é ou não ficção. Eu costumo falar por mim, que é muito difícil escrever seja um conto, uma crônica, uma novela, que não tenha um embasamento da vida real, minha ou de pessoas que conheci, mas afirmar isto pode ser também uma grande mentira. Ninguém garante. Muitos possuem a teoria que, se alguém fala ou escreve muito sobre determinado assunto, é porque este o incomoda.
Estou escrevendo agora, aparentemente (porque está claro que a paranóia do ficcional sempre irá perseguir a muitos), com honestidade o meu método de escrever. E sinto que talvez por esta razão eu não tenha talento para poetizar ou para escrever literatura fantástica. Minha incapacidade de sair da realidade é fora do normal. E muitos que me lêem sentem isto, dizem que alguns personagens que crio parecem comigo.
Seria eu uma grande mentira? É possível. Isto faria de mim alguém muito mais talentoso do que eu acredito ser, sem modéstia, porque a modéstia é a coisa mais falsa que existe, é súplica pra quem quer ganhar confete.
Minha mente é um local semelhante ao seriado American Horror Story, repleto de fantasmas. Fantasmas dos quais eu fugi, fantasmas os quais enfrentei e os quais ainda insistem em me atormentar e eu ainda fujo.
Ou tento.
Fantasmas que, por vezes, sem a minha permissão, aleatoriamente saltam aos meus escritos e quando me dou conta, é tarde demais. E estes se manifestam, como em um centro espírita, em alguns de meus contos ou livros.
Escrever crônicas é mais fácil, apenas damos uma opinião sobre um determinado assunto e sem perceber, acreditando que estamos sendo tão impessoais, há sempre alguém com maior sensibilidade que “nos pegam” e percebem muito de nossa personalidade.
Eu me considero um pouco narcisista quando se trata de assuntos pessoais, não me sinto muito a vontade em criar posts como tantos que vejo por aí onde o autor escreve aberta e detalhadamente sobre suas vidas, suas experiências, seus amores, paixões, família... Houve ocasiões que foram inevitáveis não partir para o pessoal, sempre com cuidado, mas não me sinto a vontade e sinto até um pouco de pânico quando dizem que serei entrevistado.
Contudo, sei que este narcisismo não pode ser absoluto, porque eu estaria traindo a minha própria teoria de que todo autor, por mais que escreva literatura fantástica, sempre extrai algo de si, de sua vida, da vida de alguém com quem conviveu para formar seus escritos... O mundo, a vida, os traumas e tristezas, principalmente estes últimos, servem de grande inspiração.
Uma coisa eu tenho certeza, muitos dos meus fantasmas podem estar presentes em meus escritos, mas muitas histórias de alguns deles nunca serão contadas. Ficarão ocultas até mesmo do papel, em algum lugar obscuro da minha mente.
E quem pensa que tudo é uma mentira, talvez esteja vivendo dentro de uma.
E talvez, todo este texto seja uma mentira. 

Christian V. Louis do blogue Escritos Lisérgicos

11 comentários:

  1. Oi, Christian!
    Sabe, quando eu leio um escritor, nunca, nunca me pergunto se ele está mentindo ou não. Porque a experiência que eu vivo com um texto é sempre muito verdadeira e para mim, isso basta.
    Além disso, penso que por mais fantasiosa que seja uma história, ela está irremediavelmente ligada à essência de quem a escreveu. E esta é sempre muito verdadeira.
    Um grande abraço!

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    1. Isa, você realmente compreendeu o que eu quis dizer e temos a mesma posição ao ler um texto em relação ao autor. Eu não me importo com o autor, por isto acho um tanto inútil ficar lendo biografias dos mesmos nos livros, o que me interessa é o conteúdo.
      Acredito que até o texto mais fantasioso que exista, tenha realmente ligação com seu criador. J.K Rowling certa vez deixou meio em pauta que se inspirou em sua infância para criar Harry Potter, por ser uma garota excluída que usava óculos e também, que Harry Potter era sua inspiração do sonho que tinha em ter uma grande família.
      Stephen King, em suas histórias de terror, sempre remete-nos ao ambiente da sua cidade natal, no interior dos EUA. Tudo, tudo tem um pouco de veracidade. Por vezes clara como King, por vezes oculta, como Rowling, mas tem.

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    2. Gostei dessa sua opinião: " a experiência que vivo com um texto é sempre muito verdadeira para mim".
      Isso basta. Mesmo.

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    3. Em tempo:
      Que falta de delicadeza a minha...Empolguei-me com o texto do Christian e fui embora sem dizer que adorei o blog e que voltarei sempre para ler os textos aqui publicados!
      Um grande beijo!

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  2. Ola,
    É minha primeira vez aqui e certamente fiquei feliz ao ver um texto do parceiro Christian aqui.
    Sabe, mesmo lendo o texto, não tenho uma opinião formada se somos ou não mentirosos, pois depende do ponto de vista do observador. Contudo, se somos mentirosos, então somos de fato muito bons (sem essa péssima ideia de modéstia, como bem falou o Christian), pois de fato, conseguimos mentir tão bem a ponto de nos enganar.

    Parabéns pelo espaço!


    Abraços, Flávio.
    --> Blog Telinha Crítica <--

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    1. Parceiro, eu acompanho de certa forma o comentário da Isa.
      Todo escrito tem ligação com a essência de quem o escreveu, ou seja, de um modo ou de outro, a veracidade pode estar aberta ou camuflada.

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  3. Oi de novo! Gostei da forma como falastes dos "Fantasmas".. escrevi no Lisérgicos que há certa indefinição, de minha parte, sobre se "mentimos" ao escrever ou não.
    Quando li aqui, sobre os fantasmas, lembrei de como escrevo alguns de meus textos: como se precisasse libertar algo de dentro de mim. Como se a torrente de palavras que saem da mente e correm para a tela do computador, fossem algo físico, que precisa ser libertado, para não me deixar agoniada, não ficar me cutucando por dentro.

    "Fantasmas que, por vezes, sem a minha permissão, aleatoriamente saltam aos meus escritos e quando me dou conta, é tarde demais."

    São verdadeiros ou mentirosos estes fantasmas? Depende.... de mim, do que quem leu sentiu, do que eu senti ao escrever.

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  4. Oi, sou Ivani, parceira do Christian e gostei muito desse blog.
    Parabéns a voces pela criatividade, e a música é deliciosa.
    Quanto á postagem vou comentar lá no blog dele, senão terei que repeti-la.
    Um grande abraço.

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  5. Olá!

    Eu penso que o exercício de ficção está ligado à fantasia, à criação; mentir é faltar com a verdade - e quando uma pessoa mente está faltando à verdade inclusive com ela mesma, o que não condiz com um escritor: ele pode até ser um fingidor, como fez referência Fernando Pessoa, mas escrever é um ato verdadeiro. Verdadeiro com ele mesmo. E como dizia um escritor que eu gosto demais chamado Fausto Wolff, uma característica fundamental para quem escreve é a sinceridade, sinceridade com a literatura, com a obra, com o seu tempo.

    É isso. Um abraço!

    Valeu, rapaz. Li o complemento no The Renegades também.

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  6. Eu acredito que as pessoas dizem apenas o que podem ou sabem dizer, acredito no que as pessoas me contam, seja no blog, seja no banco da praça, na parada do ônibus ou nas longas viagens de um canto a outro da cidade... Muitas histórias são ficções da realidade muitas são realidade da ficção... seja como for não nos cabe julgar ou procurar cabelo em cabeça de ovo, as pessoas falam porque querem ser ouvidas, nós falamos porque queremos ser ouvidos... Ou melhor, eu falo/escrevo porque quero ser apenas ouvida, não desejo compreensão apenas colo e vez ou outra o som amigo de uma voz de seja lá quem for... Então é isso que ofereço ao estranho com quem converso ou ao blogueiro que sigo e oro para que seja suficiente...

    Enfim, não sei se viajei no coments, seja como for, vc sempre é muito ponderado Christian, meu querido velho!!!

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  7. Ler é também um desafio. Extrair o necessário e essencial do que nos apresentam é um tarefa árdua. Mas pôr em questão a veracidade de um texto não é algo que eu faça. Eu leio. Para me completar, para alargar horizontes, seja para o que for, leio sem pensar no que pode ser mentira. Eu tambem escrevo.. também oculto pormenores e expresso sentimentos fictícios.. mas fará isso de mim uma mentirosa? Eu chamar-lhe-ia uma criativa, uma sonhadora. Nada mais.
    Excelente texto, Chris! Parabéns!

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