Like The Renegades!

maio 10, 2012

Desatino.



Vem, vem aportar-me o dedo. Vem, vem dizer-me que não sou quem esperavas, que não cresci como desejavas. Vem, diz-me que não dou valor ao que devo. Anda, de que estás à espera? Espeta-me na cara que não me interesso por aquilo que tu achas relevante! Acusa-me de fugir às tuas regras, proíbe-me de agir segundo as minhas convicções! Afirma a minha arrogância e evidência as minhas falhas. Vem! Não sei porque aguardas! Estou aqui, sempre estive. Enclausurada entre estas quatro paredes, cercada por este negro acolhedor. Anda, estende a tua mão e desfere sobre mim a chapada de acusações que há tanto guardas para ti.
Eu sei. Sei de tudo. Sei que não serei quem tu querias, sei que não marcarei as passadas que delineaste para mim. Perfeita? Desisti de ser. A perfeição é algo que não existe de modo geral. É algo que reside no olhar de cada um, algo que apenas corações singulares podem suportar do seu próprio jeito. Talvez o teu olhar só indique imperfeição quando sou eu a protagonizar no teu ângulo de visão. Talvez os meus defeitos sobressaíam demais. Ou talvez não saibas apenas dar valor àquilo em que me tornei. Não sou o que tu desejavas, não é? Não me vou esforçar mais. O teu olhar denuncia o que pretendes esconder. O desespero. A incompreensão. Mas acima de tudo: a desilusão.
Eu sei. Sei que por cada passo que dê, tu vais achar uma pedra fora do sítio. Sei que por cada opção que tome, tu vais preferir os mil caminhos que deixei por escolher. Sei que em cada esforço que faça, tu irás forçar-me a duplicar a dor. Sei que por cada medo que me assole, irás tentar confrontar-me sempre com ele, vais fazer-me temer. Sei que a cada nova vitória, irás procurar achar as falhas do percurso. Sei que não mudará. Sei que será assim até ao fim.
Vem. Torna a acusar-me de ser insensível, de não ligar aos que me rodeiam. Acusa-me de não estabelecer contacto com quem me quer bem. Aponta o dedo ao meu passado escuro. Diz que falhei. Que sou um fracasso. Vá, diz! Foi o que sempre quiseste, apenas o guardaste para ti. Não sigo o protótipo que desejas. Lamento. 
Dizes que não me preocupo, que não me interesso, que só ligo ao que desejo. Afirmas que fui um erro. Proclamas o ódio por ser quem sou. Desculpa por não ser o que desejas, mas tornei-me naquilo que de mim fizeste: imperfeita. Como todos, como nenhum. Como eu. Apenas eu.

Bree Emma Sommers, 
à quinta :)

3 comentários:

  1. Bree,
    No momento em que perdemos o medo e a revolta consegue finalmente romper as nossas amarras, damos o primeiro passo em direção à liberdade!
    Lindo texto!

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  2. Apesar do forte sentimento que aqui empregaste e apesar de não ser um sentimento muito bom, isso é o que nos distingue dos demais. :) Nem todos podemos percorrer os mesmos caminhos porque somos completamente diferentes e todos os aspetos e as mentalidades vão variando, bem como as opiniões. Não há que ter medo de percorrer um caminho que os outros condenam quando temos necessidade disso. O que deve prevalecer é o objetivo e não as conjeturas que irão tecer de nós. :) adorei o teu texto! ^^ beijinho!

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  3. É irónico como nós tentamos sempre que o que nos rodeia seja feito à nossa maneira, dentro do que achamos tolerante e do caminho que deve levar. Nós, sem querer .. julgamos! Apontamos as falhas mas não sabemos lidar com elas, dar-lhes a volta! E não me refiro às nossas falhas mas sim à dos outros!! As nossas são nossas e apenas nós podemos lidar com elas e o principal para fazer isso, é admitir que as temos! Ou que já falhámos. mais dificil é aceitar os outros. Como eles são. Ter respeito pelo que o outro pensa, pelo que o outro decide da sua vida e escolhe para sim mesmo .. julgamos porque achamo-nos superiores e que nós é que temos a razão de tal modo que uma escolha diferente para uma mesma situação é logo julgada. E se corre mal .. é logo uma tempestade num copo de água. Nisto refiro-me aos pais.. Esses são do pior neste tipo de situações. É verdade que têm anos e anos de cabeçadas e experiência e têm-na porque falharam à 1ª ou à 2ª ou até mesmo à 3ª tentativa .. Aconselham-nos nas nossas decisões e quando dá para o torto apontam todos os defeitos e mais algum! Mas quando não dá para o torto ainda têm lata de se afirmar e dizer que a maneira como nós fizemos as coisas não foi a mais acertada .. e porquê?! Apenas porque não foi da maneira como nos aconselharam a fazer. Epa, dá-me uma aversão enorme, os pais serem assim! E não sei se estou a explicar-me bem.. Nisto, o que quero dizer que, temos as nossas escolhas e apenas a nós nos cabe escolher. Mesmo que no dia a seguir nos arrependamos ..

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