Ele escancarou a porta do roupeiro e retirou o seu fato negro e discreto. Retesou o seu braço e retirou a máscara negra que se escondia por detrás de todas as suas roupas aparentemente normais. Envergou os jeans, seguindo-se a camisola. Parou por momentos e fitou o retrato que se elevava imediatamente acima dos seus olhos: um rosto pálido, com feições angelicais e olhos diabólicos onde habitava uma mulher cheia de vida para dar e vender.
Desgostoso, abanou freneticamente a sua cabeça e enfiou a máscara. Abriu a gaveta falsa e retirou um revólver onde verificou que o tambor girava perfeitamente e se tinha munições suficientes. Alcançou ainda o seu casaco, verificando se as chaves do velho Impala chocalhavam no seu bolso. Abriu a porta e entrou no carro, colocando as chaves na ignição. De todas as vezes que fazia aquilo, lembrava-se dos comentários trocistas de Emily que o incitava a substituir aquela lata velha enquanto ele insistia que era um carro cheio de estilo e de aventuras. Por momentos, sorriu mas as suas feições outrora meigas foram substituídas automaticamente pelo já habitual semblante sisudo e sorumbático. Nervoso, com o sangue a fervilhar-lhe nas veias descontroladamente, arrancou a grande velocidade até ao centro do crime onde iria encontrar alguém que merecesse a sua fúria.
Assim que chegou a música alta proveniente das discotecas inflamou-lhe os ouvidos. Nitidamente incomodado, encaminhou-se até ao local onde lhe haviam dito que era o centro do negócio. Apertou o cano do revólver e pousou o seu olhar sobre um grupo de homens que sorriam entusiasticamente sob o efeito de drogas pesadas. Ele sabia que ele estava ali. O faro de um ex-policial nunca falhava e ele podia sentir a culpa que residia nele a léguas. E se não era culpa... era orgulho.
Os olhos negros e revoltos do homem cruzaram-se com o seu olhar caramelizado e o homem começou a recuar, afastando-se do grupo de homens. Ele não desistiu. Caminhou atrás dele a passo acelerado. Ambos chegaram a um beco sem saída. Ele não tinha por onde se escapulir.
- O que quer de mim? Sabe que não a posso trazer de volta, não sabe? - Interpelou com presunção na voz.
Ele retirou a máscara e vislumbrou com mais nitidez o rosto esbaforido do homem.
- Eu matei-a. O sangue jorrou pelas minhas mãos como uma nascente. Eu não me arrependo de nada! - E cuspiu no chão. Não estava mesmo arrependido.
Ele avançou com calma, exibindo um rosto calmo e resoluto.
- Não diz nada? Não se quer vingar? Ser pior do que eu e mostrar a toda a gente que estamos numa espécie de Gotham City?
Ele ignorou e continuou a avançar. O homem embateu com as costas na parede e viu-se sem alternativa para fugir, como estava habituado. Abruptamente, sentiu o seu pescoço ser apertado. Olhou com espasmo o homem que devia estar consternado mas exibia pacificidade no rosto.
- Tu falhaste o alvo, amigo. - Falou tão baixo que ele mesmo teve dificuldade em se ouvir. - Apenas se tratava de um disfarce. Eu choro por que ela era minha amiga de infância mas tu deves chorar por outro caso.
Os seus olhos esbugalharam-se.
- Emily... - Murmurou. - Estás a dizer...
O homem largou-lhe o pescoço e voltou a envergar a negra máscara.
- Sim, o sangue dela jorrou-te pelas mãos como uma nascente mas com uma grande diferença: estás arrependido.
As lágrimas toldaram-lhe os olhos.
- Como... como pude eu matar a minha própria esposa?
Ele voltou-lhe as costas e caminhou de volta ao seu carro.
- Estás a ouvir-me? Como pude eu matar a minha própria esposa?
Lentamente, rodou o pescoço e olhou-o com desdém.
- Porque sempre te agradou mais o dinheiro que o amor. Sempre te apelou mais o orgulho à humildade. A volúpia a sentimentos leais. O negócio às pessoas. - Proferiu com frieza. - Talvez devas sofrer como fizeste os outros sofrerem.
E caminhou, deixando-o à sua mercê. Não era o justiceiro nem estava em Gotham City. Queria matá-lo mas acobardou-se. Retirou a máscara, pisou-a e entrou no carro conduzindo até à orla marítima. Despiu as suas roupas e entrou no mar. O mesmo mar onde tinha deitado as cinzas de Emily.
Hayley Logan
P.s Todas as Segundas iremos escrever uma espécie de história para que possam ler! Hoje calhou a mim mas para a semana há mais! Se gostam da ideia, toca a comentar e a opinar! Aproveito para avisar que nos meus posts, os comentários estão a ser respondidos na mesma caixa! Kiss!