Like The Renegades!

fevereiro 27, 2012

Após a chuva.



-        Não... Não te afastes de mim, não vás!

Mais uma vez acordei suada e com as lágrimas a escorrerem-me pela cara abaixo. Andava cansada. Fora de mim. Desde que Jared me havia deixado, passei pelos piores dias da minha vida. Tudo era cinzento. O meu mundo era cinzento. Escuro. Optei não sair de casa mais vezes, desde o sucedido. Na escola falava com pouca gente. Toda a gente sabia do sucedido. As minhas tardes eram passadas no cemitério, na sua campa. Todas as semanas, levava um rosa branca comigo. Algo que me fizesse garantir a sua paz. Algo que eu não sentia desde a minha perda. Sentei-me ao lado da campa, acariciei a fotografia do jazigo.

-        Foi tudo tão depressa. Porquê tu e não eu? É complicado viver assim. Eu não tenho forças para continuar sem ti. Porque não fui contigo, naquela maldita noite? Porque, algo me disse que não deveria ir. Mas eu deveria ter ido. Em vez de isso, tu estás aí e eu aqui, como vês, a falar com um jazigo... Sempre fui considerada... algo diferente. O que diriam as pessoas? - Aguardei um pouco, como se esperasse obter uma resposta. - Maluca, eu sei... Os meus dias têm sido... horríveis. É tudo tão frio e horrível sem ti. Eu não quero chorar, mas é o que acabo sempre por fazer. Com quem vou eu fazer as viagens? A quem é que eu vou contar todos os meus segredos mais íntimos? A quem, se não a ti? Eu sei que... eu devia seguir com a minha vida. Mas eu não consigo.

Lágrimas escorreram-me de novo pela cara abaixo. Molhei as calças com as gotas salgadas que caíam, lentamente, uma por uma.

-        E já estou a chorar de novo. Só consigo pensar em ti. Apenas tu existias... Agora nem isso. Odeio-me, por não ter ido contigo. Maldito comboio. Maldita hora em que ficaram presos na linha. O destino tem destas partidas, não é? Ainda segurei as tuas mãos. Lembro-me como se fosse ontem. Infelizmente, essa memória não partirá da minha mente, apenas tento afogá-la com memórias boas, que levam a ti e que me trazem aqui. O que levam ao choro de novo. Acho que é a minha rotina... Vou manter o meu luto por ti. Eu... espero que tu estejas em paz. Talvez nos encontremos de novo um dia. Eu sei que sim... Sei que vais esperar por mim. Mas até quando? Será que vais ter paciência como tinhas para mim? Ainda te lembras? Quando costumávamos discutir mas ao fim acabávamos sempre por concordar. Quando subíamos à casa da árvore e comíamos bolinhos. Quando me contavas todos os teus segredos e eu os meus. Quando viajávamos juntos. Quando trocamos o nosso primeiro beijo... Quando disseste que não sabias beijar e eu ri-me, contudo também não sabia. De tudo o que passamos juntos... Até os momentos maus, que acabaram por se tornar bons. E tu que me fazes? Partes assim, deixando-me sozinha. A que é que eu me vou agarrar agora Jared? Não tenho para onde ir sem ti. Tu eras um por todos.

Começou a chover. A chuva batia com força na minha cara. Beijei os dedos e de seguida encostei-os á fotografia que se encontrava no jazigo. Caminhei para fora do cemitério, com o capuz preto colocado. Já não havia risos, nem sorrisos, muito menos gargalhadas. O mundo estava de luto para comigo. Tudo o que era, tudo o que costumava sentir, desvaneceu-se. Mesmo após a chuva, poderia ver o paraíso a chorar. Não iria encontrar alívio. Nada a que me pudesse apoiar. Os arco-íris tornaram-se cinzentos, assim como os meus dias. Que aconteceu aos nossos sonhos? Foi tudo levado, apenas em questão de minutos. Senti a fraqueza tomar as minhas pernas. Continuei até casa. Não me apetecia estar lá. Era tudo o que eu menos queria. Contudo, não tinha para onde ir. Subi as escadas lentamente e deitei-me na cama. Estava tão escuro como lá fora. A chuva bateu com força na janela. Levantei-me e olhei em volta. Não havia ninguém. As crianças que costumavam brincar, estavam recolhidas dentro de casa, com os seus animais, felizes com as suas famílias. De vez em quando, via-se as folhas das árvores quase serem levadas com a força do vento. Pessoas a combater a chuva e a andar rapidamente para casa. Virei-me de novo. Não iria estar ali. Voltei a sair de casa, com os olhos postos em mim. Caminhei até à casa de Jared. Estava agora para venda. O cartaz estava caído no chão, por causa da força com que o vento soprava. A porta estava aberta. Estava frio lá dentro, a chuva escorria pelas paredes. A casa havia sido deixada assim, há dois meses. Ninguém a queria comprar. Diziam que o espírito dele ainda lá residia. Segui até seu quarto. Ainda havia fotografias dele. Havia duas velas ao lado de uma fotografia nossa. Tinha o seu braço por baixo do meu pescoço e sorria docemente, enquanto eu olhava para cima e sorria também. Senti mais uma vez um nó na garganta. Uma lágrima escapou-se e limpei-a com as costas da mão. Sabia que nada o traria de volta, mas nada me impedia de continuar a viver com a sua presença perto de mim. E sabia que só conseguia senti-lo naquela casa, no seu quarto, com as coisas que restaram dele. Sabia acima de tudo que devia deixar ir, mas custava tanto, quando era tudo tão recente. Então, virei-me uma última vez para me despedir daquela casa de vez, quando vi o embaciado no espelho e nele escrito: Nunca me esqueças.
A chuva cessou e assim, percebi que teria sempre uma parte de si, no meu coração. E isso, ninguém me poderia tirar.



P.S: Todas as Segundas iremos escrever uma espécie de história para que possam ler. Hoje calhou a mim mas para a semana há mais! Se gostam da ideia, toca a comentar e a opinar! Aproveito também para dizer que responderei a comentários na mesma caixa dos meus posts. Beijinhos e espero que gostem!

5 comentários:

  1. O luto de uma perda inesperada! Quando a felicidade nos é arrancada! Gostei imenso e consegui sentir a dor dela. Adorei, Ruth!

    ResponderEliminar
  2. Obrigada Cassandra! Pretendia mesmo isso mesmo sem sequer ter referido o nome dela nem o seu aspecto físico. Obrigada mais uma vez!

    ResponderEliminar
  3. Que lindo! ^^ Adorei este teu textinho! :D Tão lindo e emocionante! :D

    ResponderEliminar
  4. Ai Ruth! Gostei tanto! Recentemente uma amiga minha sofreu uma perda idêntica e ao ler este teu texto, acabei por reviver a dor que reside agora na minha amiga. As sensações todas, as descrições emotivas, o contexto doloroso. Gostei muito :) Parabéns ^^
    kiss * , Emma.

    ResponderEliminar
  5. Own obrigadas meninas! :)
    Oh Bree isso é que já é mau :(

    ResponderEliminar