Gotículas de suor agrupavam-se na minha testa enquanto o meu corpo tremia a cada aragem que passava. A minha cabeça incitava-me a não parar a marcha, mas o meu corpo parecia entorpecido pelo medo. Cerrei os olhos e respirei fundo. Tinha uma missão a cumprir. Ergui a cabeça e obriguei-me a prosseguir caminho.
Encolhi o corpo junto ao chão e em passos curtos mas furtivos, avancei até a um monte de areia a poucos metros de distância, escondendo-me na sua retaguarda. Empunhava uma sniper que se encontrava apontada para o inimigo. Aquela arma ainda causa em mim um horror descabido, mesmo após todos estes anos...
Num estrondo exacerbado, ouvi uma granada a explodir a poucos metros de mim. Tremi e atirei-me para o lado. A última coisa que desejava naquele momento era ficar sem um membro ou até mesmo morrer, sem antes concluir a missão que me havia sido destinada.
Tudo parecera excessivamente calmo até àquele momento, suspeito no mínimo... Mas agora regressara ao normal naquele ambiente. Granadas eram atiradas pelo ar de ambos os lados e os tiros ecoavam por todo o terreno, fazendo-nos temer, tal a baralhação de distâncias que se instalava nas nossas cabeças. Uma bala podia ser disparada a cem metros e nós podíamos senti-la a escassos centímetros de nós, e o contrário. Naquelas situações nada na nossa mente jogava certo, tudo baralhava e deturpava a realidade.
Descontraí os músculos dos ombros e avancei até a uma casa abandonada relativamente perto. As minhas passadas eram breves mas progressivas. Tinha de me abrigar nalgum local longe do tiroteio e ao mesmo tempo, num ponto estratégico de onde pudesse avistar o inimigo.
A sniper tornava-se mais pesada a cada passo e o fato de guerra não se tornava mais leve com o passar do tempo. Pouca aragem corria naquele clima desértico, e o calor parecia infindável. Mas nenhum da equipa podia ficar para trás ou desistir pelo caminho. Estávamos ali juntos e eu contava regressar à base com todos os meus colegas...Ah! Mal tinha eu conhecimento do meu destino!
Abriguei-ma na casa, pensando não ter sido seguido e vasculhei o exterior em busca de presença inimiga. As ordens eram claras. Qualquer elemento que não pertencesse à nossa base, deveria ser abatido. Ninguém podia escapar, à exceção de crianças e mulheres, que aos poucos se refugiavam ainda mais nos seus esconderijos, procurando desaparecer da zona de batalha.
Avancei um pouco mais, repercutindo os meus passos e passei à divisão seguinte daquela casa. A sala. As condições não eram as melhores, pelo o que os meus olhos viam, e o sangue protagonizava naquele espaço de terror. A minha expressão alterou-se. Junto aos meus pés encontrava-se algo que eu não vira anteriormente... Dois cadáveres. Embebidos em sangue, caídos no chão sujo. Duas crianças...
Senti um aperto no estômago. Os seus pequenos corpos negros estavam sobrepostos e em ambos os rostos, era nítida a agonia e o medo. As suas mãos estavam agarradas, poisadas ao lado dos dois pequenos corpos. Lágrimas picaram-me os olhos. Era aquilo que eu mais temia em cenários de guerra... Que inocentes fossem arrastados pelo meio. Era triste, injusto, inumano, exterminar quem nada tinha a ver com aquilo. O fogo cruzado era perigoso e podia colher pelo meio quem nada lhe dissesse respeito, e tal acontecera.
Jurei para mim próprio que em momento algum a minha arma mataria pelas minhas mãos alguém que não o merecesse.
Prossegui caminho, empunhando a arma e atravessei a casa de uma ponta à outra. Parecia deserta à exceção dos pequenos cadáveres que ainda mexiam comigo. Pobres crianças... Não haviam merecido que as suas vidas assim terminassem. E com nada haviam podido combater.
Um ruído além do tiroteio exterior alertou-me. Algo que não viera de fora daquela casa. Um pequeno estrondo, como se algo tivesse sido derrubado. Rodei sobre os meus calcanhares, nunca baixando a guarda e vasculhei com o olhar todo o meu redor. Algo não batia certo. Outro ruído. Avancei três passos silenciosamente, e preparei-me para disparar sobre o inimigo.
Não podia esperar o que se seguiu, mas poderia ter evitado tudo o que aconteceu. Senti o meu corpo ser balançado para a frente com o impulso dado por alguém na minha retaguarda. Senti o peso de um corpo em cima do meu e debati-me fielmente para desalojar o inimigo das minhas costas.
No meio daquela confusão, um som soou mais alto no meio de tudo o resto. Um tiro. No segundo seguinte, já o peso nas minhas costas desaparecera e o inimigo estava estendido no chão. Inicialmente o alivio despoletou em mim e um suspiro formou-se... Até eu me virar. No chão estava um corpo sim, morto, rodeado por uma poça de sangue...
O corpo de um jovem, uma criança.
Eu havia morto um inocente.
Ainda hoje me recordo desse episódios todos os dias... Passados 30 anos, não houve um único dia que não me recordasse do facto de eu ser um assassino. Ainda hoje acordo de noite com a testa embebida em suor e as lágrimas a escorrerem-me pelo rosto. Eu não mereço viver, e por isso, peço todas as noites que Deus me leve. Mas Ele não o faz, e eu não tenho mais solução. Este revólver pende na minha mão e os meus dedos rodeiam-nos firmemente.
Hoje ponho fim a tudo, com uma única bala.
One-Shot semanal.
Bree Emma Sommers :)
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