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abril 07, 2012

«Porque quem tem, não sabe dar valor» *história fictícia




7 de Abril de 2012
Mãe
Não sei onde te encontras, não sei para onde navegaste. Para longe, com certeza... Mas onde fica esse "longe" que há tanto eu procuro?
Esta não é a primeira nem será a última carta que te escreverei.. Na verdade, esta será como todas as outras, inútil e desesperada. Como sempre as páginas amachucadas e rasgadas preenchem o espaço à minha volta... Todas elas escritas, todas elas preenchidas por palavras sem sentido, trilhos de tinta sem rumo algum... Mas todas elas contêm a mesma frase. A frase que sempre repito, que nunca esqueço, que me ocupa com incertezas e me inunda com dúvidas. "Onde estás tu, Mãe?". Porque não estás aqui?
Eu vejo, dia após dia, todos os outros miúdos. Eles brincam. Riem. Jogam. Partilham. Eu vejo o brilho nos olhos deles. Um brilho que nunca enxerguei no meu próprio olhar. Um brilho que sempre faltou. Algo que se perdeu no passado. Todos eles portam aquele sorriso como se nada os pudesse afetar.. Pudera! Todos os dias retornam a casa e têm o calor do abraço de uma mãe e a proteção fiel de um pai. E o que tenho eu, quando retorno a casa? Nada. Ou melhor, até tenho. Lençóis frios, um colchão velho e o ruído incessante produzido pelos outros trinta órfãos que me acompanham. Solidão. Eu e a minha almofada, que de mim já reconhece as lágrimas, que de mim já conhece os traços e desejos. 
Onde estás tu, Mãe? Porque não estás aqui, comigo? Eu compreendo. Eu própria me abandonaria. Não sou o tipo de filha perfeita que alguma mãe desejaria... Mas se aqui estivesses... Eu juro que não seria como todos os outros miúdos. Eu não te iria desprezar após ter conseguido a prenda que há tanto exigia. Não te iria pedir todos os jogos e brinquedos acabados de sair! Iria simplesmente divertir-me a teu lado. Ajudar-te em todas as tarefas, assistir aos meus filmes de animação favoritos junto de ti, contar-te todos os meus segredos, partilhar contigo todas minhas desilusões amorosas e segredar-te o nome de todos os rapazes que me chamassem à atenção. Não ia perder horas infinitas agarrada ao computador, como todos os outros. Iria passar os serões contigo, para que todos os dias tu desejasses voltar do trabalho para casa com uma vontade indescritível de estar comigo. Ia tomar conta de ti quando adoecesses e tratar de tudo na tua ausência. 
Mãe... Eu faria tudo aquilo que não vejo os outros fazerem, só para te ver feliz. Eu iria aplicar-me na escola, fazer amizades e convidar todos para se reunirem em nossa casa... Apenas para que pudesses ter a alegria de nos ver a estudar em grupo. Eu iria errar, Mãe... Quem não erra?  Mas fá-lo-ia inconscientemente e desculpar-me-ia sempre. Não te ia mentir. Não ia inventar desculpas. Mãe! Eu só te queria aqui.
Não seria como todos os outros, não te ia dar valor apenas quando partisses... Ia relembrar-te todos os dias do quanto te amo. Da falta que me irias fazer quando partisses... Ia abraçar-te e receber-te todos os dias com um sorriso nos lábios e um beijo no rosto. Só para que o stress do teu emprego se desvanecesse ao chegares a casa. Não te ia dar demasiado trabalho. Eu até arrumaria o meu quarto sozinha, e o teu e toda a casa, para que não te cansasses. 
Mãe! Eu faria tudo por ti, se aqui estivesses... Mas não estás. E eu nem sei onde páras. Mas preciso de ti. Este orfanato assusta-me. As histórias que ouço, fazem-me temer o futuro. Porque não podes tu vir buscar-me? Sinto-me sozinha aqui. Rodeada de estranhos que me assustam. Preciso de ti, Mãe. 
Há tanto que te quero contar, tanto que desejava partilhar contigo.. Onde quer que estejas, por favor, volta.
Não sou como os outros. Eu amo-te de verdade, mesmo sem saber quem és. E não tenho medo de dizê-lo como todos os outros. Todos eles dispõem de um Pai e de uma Mãe, aos quais podem diariamente dizer o quanto os adoram, e no entanto, não se dignam a fazê-lo. É mais fácil deixar para amanhã, afinal, os pais deles estarão sempre ali no dia seguinte , até ao dia em que não estarão mais. Mas não é o meu caso. Não tenho a sorte deles. Uma sorte que eles nem reconhecem. Desvalorizam, ignoram. Porque quem tem uma Mãe e um Pai, não sabe dar valor. Eu não te terei de novo amanhã, tal como não te tive ontem. Mas irei dizer-to sempre. Eu amo-te, Mãe, estejas onde estiveres, sejas quem quer que sejas. 
Mas, por favor, volta.. Preciso de ti, todos os dias.
Com Amor.

*História fictícia.
Bree Emma Sommers#
A Renegada das Quintas que anda atrasada :p 
Boa Páscoa a todos!

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