Ela costumava ler livros sentada no banco de jardim por debaixo de um ramo de uma árvore frondosa. Lia sobre homens que nunca conheceria, sobre personalidades que nunca teria, sobre amizades que nunca ninguém iria nutrir por ela, sobre relacionamentos que ela sabia serem impossíveis devido à vida que levava.
Ela passava a vida a sonhar. A imaginar o dia em que conheceria a pessoa ideal, as palavras carinhosas que lhe iria dizer, mas depois aterrava e apercebia-se do mundo inóspito em que vivia. Sabia que por mais que tivesse mudado tudo iria permanecer imutável.
Ela sabia que por mais que tivesse mudado, o seu passado iria atazaná-la e julgá-la como se ela fosse uma criminosa. De facto, ela tinha sido uma criminosa, ainda hoje se culpabilizava e enchia a sua cabeça com hipotéticos "Se", mesmo sabendo que era ela ou ele.
Costumavam apontar-lhe o dedo, acusá-la de ter morto uma pessoa, quase lhe escancarando o artigo de que a vida era inviolável à frente dos seus olhos violeta. Sim, ela tinha-o morto e se fosse preciso fá-lo-ia de novo. Não, ela não estava disposta a sofrer novamente os mesmos abusos, a mesma violência com que era recebida quando chegava exaurida do emprego a casa. Não estava disposta a aturar as embriaguezes constantes do namorado que faziam com que o seu subconsciente ficasse distraído e ele lhe proferisse palavras acutilantes que despedaçavam o seu fraco coração. Certo era que ele desculpava-se mil e uma vezes, alegando que nunca mais o iria fazer. Jurando pela sua própria vida, mas o Diabo parecia estar sempre do seu lado. Embalando-o como uma criança com pesadelos e o anjo dela parecia adormecido. Não obstante, embora ela soubesse que era injusto, ninguém lhe perguntava o que se tinha passado para ela ter feito o que fez. Ela não o teria feito se não tivesse razões para tal, mas todos pareciam ver o caso superficialmente. Trocaram os papéis do Diabo com Anjo e ela era o Diabo para todas as pessoas que por ela passavam. Ela tinha morto o namorado porque era uma meretriz. Ela tinha morto o namorado porque não tinha mais nada para fazer. Ela tinha morto o namorado porque ele a traiu.
Não. Não. Não. Três mil vezes não!
Ele não a tinha traído, pelo menos que ela soubesse, ela não o tinha morto porque lhe apeteceu e muito menos porque era uma meretriz. Ela matou-o porque ele tentou matá-la de modo atroz. Recordava-se perfeitamente desse dia. Tinha chegado a casa na esperança de ver Joe sóbrio e de braços abertos para a receber, mas ao invés disso viu-o sentado no sofá com uma faca pronta a cravar-lhe no peito. Receosa, ela avançou tentando não mostrar medo, mas ele derrubou-a e tentou matá-la enquanto a chamava de vadia. Ela não teve hipóteses. Ao mínimo fraquejo dele, cravou-a no seu peito, chorando junto dele assim que o seu olhar ficou vidrado em direção ao teto. No entanto, nunca ninguém lhe perguntou o que se tinha passado e ousavam tratá-la como se ela fosse uma criminosa vil.
Anos depois, aquilo que a alegrava eram os livros recheados de tudo aquilo que ela nunca poderia vir a ter.
Hayley Logan
Como eu adorei este teu texto! Bolas, Hayley! Tu deves ter a mania! Consegues sempre transportar-me para a dimensão das tuas histórias! E eu depois fico vidrada nas tuas palavras que encaixam perfeitamente umas nas outras!
ResponderEliminarMuito bom , mesmo! Parabéns, Nya :)
És uma excelente escritora :) beijo.